Juan Schiaffino: o 'mágico' que levou o Uruguai ao topo do Mundo

Lendas Mundiais é uma rubrica do blog Passe a Rasgar, onde serão recordados jogadores que marcaram uma grande era no futebol mundial.

1950. A Seleção do Uruguai, comandada por Juan Lopez Fontana, 'silenciava' todo um estádio do Maracanã ao vencer a seleção brasileira e subia ao topo do Mundo com a conquista do Campeonato do Mundo desse ano. Numa equipa com Obdulio Varela (o eterno capitão da Celeste), Maspoli, Ghiggia, Gambetta ou Morán vergava  uma favorita seleção brasileiro e fazia história, criando também o epíteto de Maracanazo quando uma equipa perdia uma final em casa, fosse a nível de clubes ou de seleções. Mas nessa seleção uruguaia sobressaía um nome dos demais: Juan Schiaffino, o 'mágico' uruguaio que abrilhantou o jogo e ajudou a colocar a seleção de Juan Lopez Fontana no topo do Mundo. O antigo internacional uruguaio, que representou Peñarol, AC Milan e AS Roma, é considerado por muitos como o jogador mais brilhante que já envergou a camisola uruguaia. E para o povo brasileiro o nome de Juan Schiaffino ainda hoje causa alguns calafrios, precisamente por causa da qualidade e 'magia' que espalhou nesse Mundial de 1950.

Mas como toda e qualquer lenda do futebol mundial, Juan Schiaffino não teve um início de vida nada fácil. Nascido no dia 28 de Julho de 1925 em Montevideo, capital do Uruguai, o jovem Schiaffino desde muito cedo teve que trabalhar para ajudar a sustentar a família, passando por vários empregos, em padarias e siderurgia, sem nunca ter um emprego definitivo. Percorria as ruas da capital uruguaia à procura de uma oportunidade que lhe mudasse a vida e passava muito tempo junto ao Rio de La Plata sonhando com algo melhor para a sua vida, desde que passasse pelo futebol - desporto que adorava e quando tinha tempo livre aproveitava para jogar, dada a sua tremenda qualidade com a bola no pé.

Contudo, aos 17 anos de idade, daria início ao seu 'sonho de menino' e seria jogador de futebol. Começou a sua carreira de grande futebolista num dos principais clubes do Uruguai, o Peñarol, onde jogaria ao lado de Obdulio Varela, Alcides Ghiggia ou Óscar Míguez, por exemplo, com quem viria a ganhar o Campeonato do Mundo no Brasil, em 1950. Como jogador do Peñarol, Juan Schiaffino jogou 227 jogos e marcou 88 golos, ajudando o clube a vencer por seis vezes o campeonato uruguaio. Ficaria dez épocas consecutivas no emblema uruguaio onde seria considerado como uma das lendas do clube.

No tão glorificado Campeonato do Mundo pelos uruguaios, a Seleção do Uruguai, capitaneada por Obdulio Varela e liderada no banco por Juan Lopez Fontana, tinha conhecimento das suas limitações e ninguém teria a ousadia de dar favoritismo à seleção uruguaia (em amigáveis jogados com o Brasil, a canarinha vencia sempre a congénere uruguaia). Contudo, num Maracanã a abarrotar de adeptos para assistir à grande final, Obdulio Varela puxou dos galões e incentivou os seus colegas. Durante o jogo, a seleção brasileira adiantou-se no 2º tempo por Friaça (aos 46'), mas Juan Schiaffino (aos 58') e Alcides Ghiggia (aos 79') 'gelaram' todo um Maracanã e puseram em delírio todo um povo uruguaio. Sem saberem na altura, a Seleção do Uruguai entraria para a história dos Campeonatos do Mundo como uma das grandes seleções que venceriam um Mundial. Além de terem sido Campeões do Mundo, 'Mágico' Schiaffino ainda foi eleito o melhor jogador da competição.


Desde esse dia glorioso, os anos foram passando e a Seleção do Uruguai marcou presença no Campeonato do Mundo de 1954, na Suíça, onde iria defender o título de campeão do mundo pela primeira vez em solo europeu. Neste Mundial, a seleção uruguaia, que partia como favorita ao lado de Inglaterra, Brasil e Hungria, venceu por 2-0 a Checoslováquia e goleou por 7-0 a Seleção da Escócia. Seguiu-se a favorita Inglaterra, mas os ingleses acabaram vergados a uma derrota por 4-2, num exibição dourada de Juan Schiaffino. Já nas meias-finais, a celeste encontrou-se com a Hungria e nova exibição fenomenal de Schiaffino, terminando o jogo empatado a duas bolas. Contudo, no prolongamento, o Uruguai cedeu e 'caiu' aos pés da Hungria, que marcaria assim presença na final do Mundial de 1954.

Abananados com eliminação aos pés da, na altura, poderosa Hungria, a Seleção do Uruguai regressou a casa mas, fruto da sua prestação na Suíça, Juan Schiaffino despertou a cobiça do AC Milan, que lhe apresentou uma proposta milionária, para aquela altura, que o próprio Schiaffino não conseguiu resistir. O 'Mágico' esteve em Milão durante seis temporadas, registando um total de 167 jogos e 57 golos pelos rossoneri, ajudando a equipa milanesa a conquistar 3 campeonatos italianos e 1 Taça Latina. Mudou-se, em 1960-1961, para capital italiana onde assinou pela AS Roma e onde esteve apenas duas épocas, jogando um total de 47 jogos e marcando, apenas, 3 golos, mas vencendo 1 Taça das Cidades com Feira com o emblema romano. 

Ainda assim, tendo em consideração os regulamentos daquela época no futebol, Juan Schiaffino ainda pôde representar a Seleção de Itália por quatro ocasiões, sendo duas delas na qualificação para o Campeonato do Mundo de 1958, onde não chegou sequer a marcar presença. Aos 36 anos de idade, Juan Schiaffino dava por terminada a sua carreira, digamos, dourada e o mundo do futebol despedia-se do 'Mágico' que havia colocado o Uruguai no topo do Muno em 1950 e feito 'gelar' todo um povo brasileiro que já pensava na vitória desse Mundial caseiro.

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