René 'El Loco' Houseman: o craque incompreendido na Argentina

Lendas Mundiais é uma nova rubrica do blog Passe a Rasgar, onde serão recordados jogadores que marcaram uma grande era no futebol mundial.

César Luis Menotti, mítico treinador argentino que levou a Argentino ao título de Campeão do Mundo no Mundial de 1978, disse que René Houseman era «uma mistura entre Maradona e Garrincha». Polémico e lutador dentro do campo, Houseman tinha arte nos pés, mas isso não fazia com que fosse um dos jogadores mais adorados na Argentina. Mas, futebolisticamente falando, na memória dos adeptos está, por exemplo, o golo magistral marcado ao River Plate, com as cores do Hurácan, num jogo que, segundo reza a lenda, Houseman terá jogado num estado de bêbado. Contudo, isto é uma forma muito desagradável de se falar de um dos grandes nomes que honraram o futebol argentino.


Extremo-direito de origem, René Houseman começou a sua carreira no Defensores de Belgrano, mas foi no Hurácan, sob a batuta do carismático César Luis Menotti, que Houseman marcou uma era no futebol do país das pampas. Para o Menotti, Houseman era, claramente, o homem de maior confiança dentro das quatro linhas, depositando nele todas as esperanças de sucesso graças às expectativas que os seus dribles e golos acabaram por criar. Apreciar a qualidade inegável de Houseman era uma das consequências do trabalho incrível de César Menotti no Hurácan, que já fazia os adeptos argentinos renderem-se ao trabalho do técnico. Com uma variedade de fintas e um futebol objectivo e veloz, os defesas contrários não conseguiam travar um René Houseman que se assumia como estrela-maior do Hurácan, entre 1974 e 1980. Houseman parecia gozar em campo com a lentidão dos defesas que não lhe conseguiam roubar a bola.

E as comparações com Garrincha, o astro brasileiro que espalha classe e qualidade pelos relvados brasileiros, não surgiam por acaso. A imagem irreverente e o futebol alegre eram imagens de marca de René Houseman dentro do campo. Mas não era só nas quatro linhas, onde mostrava ser um apaixonado pelo futebol, que Houseman era comparado a Garrincha. Tal como o astro canarinho, Houseman também gostava muito de festas e bebidas. E a alcunha de "El Loco" não surgiu só pela genialidade dentro do campo, já que Houseman levava a sua vida até ao limite da irresponsabilidade e como jogava terrivelmente bem e era decisivo, ninguém se importava que bebesse uma ou várias vezes, porque sabiam que ele resolveriam cada jogo em que participasse.

Pela Selecção da Argentina, René Houseman esteve nos Campeonatos do Mundo de 1974 e 1978, tendo sido importante na sua participação nos certames, apontando três golos pela alviceleste. Sempre que tinha o esférico "colado ao pé", Houseman era um craque imprevisível e ainda defendeu as cores do River Plate e do Independiente, onde mesmo assim jogou poucos jogos, mas ganhou uma Copa Libertadores em 1984. Tendo ainda passado pelo Chile (Colo-Colo), África do Sul (AmaZulu) e acabado a carreira na Argentina, pelo Excursionistas, Houseman poderia ter tido uma carreira muito melhor se o vício do álcool não se tivesse atravessado no seu caminho. O astro argentino foi um dos melhores da sua geração, mas também teve os seus pecados, mostrando não ser perfeito. E esses pecados "mancharam" a sua imagem perante a sociedade argentina naquela altura. 


Falecido no dia 22 de Março de 2018, René Houseman, mesmo sendo muito lembrado pelas polémicas, fica também na história deste fantástico desporto, que é o futebol, por ter jogado num jogo entre Hurácan e River Plate, depois de ter estado numa festa de aniversário e ter andado à luta. O jogo seguia empatado a zero e, apesar estar com uma ressaca, Houseman driblou três jogadores do River Plate e o guarda-redes dos millonarios e marcou um golaço para o Hurácan. Então, nos festejos, o craque argentino caiu no relvado, riu-se, fingiu que estava lesionado e pediu para sair. Afirmou, muito depois do jogo, que foi levado para sua casa e que dormiu, mas que não se recordava de nada. São todos apontamentos de ex-colegas que fazem aumentar ainda mais a lenda que René Houseman foi no futebol argentino e que nunca viu o seu valor reconhecido.   

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